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Heleno barra perguntas de Moraes e chuta contra o próprio gol em depoimento

General Augusto Heleno só respondeu quando foi questionado pelo próprio advogado - Ton Molina/STF
General Augusto Heleno só respondeu quando foi questionado pelo próprio advogado Imagem: Ton Molina/STF
do UOL

Matheus Pichonelli*

Colunista convidado

10/06/2025 13h23Atualizada em 10/06/2025 17h47

Alexandre de Moraes não conseguiu tirar de Augusto Heleno nenhuma resposta às perguntas preparadas para o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de hoje.

Arrancou, em vez disso, não uma, mas duas gargalhadas do general da reserva ao trollar seu advogado Matheus Milanez no início e no fim da audiência.

Milanez viralizou na véspera ao pedir para Moraes adiar o início dos depoimentos no dia seguinte. "São 20h, a audiência amanhã é às 9h, e nós viemos em um carro só. Ainda preciso levar o general para casa, e eu mesmo preciso ir para a minha. Eu minimamente quero jantar... Excelência, eu só tomei café da manhã hoje, quase nada mais", disse o advogado.

Moraes aquiesceu. Que tal 09h02?

O doutor trucou: "E se fosse 10h, excelência?"

Moraes foi Moraes, tirou os dois minutos de lambuja e avisou: se tudo terminasse logo, o advogado poderia tomar um belo brunch já na quarta, jantar com a namorada na quinta e ainda aproveitar a quermesse no dia de Santo Antônio, na sexta.

No dia seguinte, quando chegou a vez de Heleno ser interrogado, o advogado levantou o dedo. Moraes gelou.

"Doutor, o horário de almoço ainda está longe", avisou o anfitrião.

Nem Heleno, sempre à beira de um ataque de nervos, se segurou.

Mas a questão de Milanez, dessa vez, não era sobre as refeições do cliente. Ele queria explicar como ele se comportaria na audiência.

As perguntas de Moraes estavam vetadas e não seriam respondidas. Entre elas, por que Heleno dizia tomar dois Lexotans na veia por dia para não mandar Jair Bolsonaro tomar medidas drásticas ao fim das eleições.

Heleno responderia apenas às perguntas combinadas, treinadas e orientadas pelo advogado.

Deu muito certo.

Já nas primeiras perguntas o advogado queria saber se seria correto afirmar que o cliente jamais defendeu qualquer irregularidade em relação às eleições.

"Realmente não havia oportunidade", respondeu Heleno, mandando a bola para o próprio gol.

Tomou uma invertida, mas do defensor.

"General, vamos lá. Só pra deixar claro: o senhor na sua fala quis dar a entender para ser realizada alguma ação ilegal. SIM OU NÃO?"

"Nããããããããão, lógico que não".

Pouco depois, Milanez quis saber se Heleno orientou a Abin a produzir relatórios com informações falsas sobre as urnas.

Outro petardo para o gol.

"Não havia clima?"

O advogado perdeu a paciência.

"General, é só sim ou não."

Moraes assistiu de gabinete e não conteve a galhofa.

"Não fui eu, general Heleno. Que fique nos anais do Supremo. Foi o seu advogado", disse o ministro, para risos da plateia - e do próprio réu, pela segunda vez em alguns anos.

Quem assistia começava a entender por que o golpe - ou episódios ados, como o atentado ao Riocentro, promovido pelos ídolos da turma - não deu certo.

*Matheus Pichonelli é jornalista e cientista social, com agens por Folha de S.Paulo, iG, Carta Capital, Yahoo!, Intercept Brasil e UOL, além de colaborações para a revista Piauí e o jornal O Globo. Atualmente é roteirista do ICL Notícias.

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