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Bolsonaro cogitou estado de sítio e novas eleições em 2022, segundo Mauro Cid

09/06/2025 05h58

Jair Bolsonaro cogitou e editou um plano para implementar um estado de sítio e realizar novas eleições em 2022, após sua derrota eleitoral para Lula, confirmou nesta segunda-feira (9) Mauro Cid, seu ex-braço direito e coacusado no julgamento contra o ex-presidente por uma suposta tentativa de golpe de Estado.

"Estou com a consciência tranquila", disse Bolsonaro, que se declara inocente, em um momento de recesso do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Em fevereiro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Bolsonaro, 70 anos, de liderar uma "organização criminosa" para não reconhecer o resultado das eleições de outubro de 2022 e impedir a posse de Lula.

A suposta trama golpista teria fracassado por falta de apoio dos comandantes militares, mas Bolsonaro e outros sete ex-colaboradores podem receber sentenças de 40 anos de prisão se forem condenados pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

Os interrogatórios dos réus começaram nesta segunda-feira no STF e o depoimento de Bolsonaro é previsto para esta semana.

Vestido com um terno escuro e sem seu traje informal habitual, o ex-presidente sentou-se ao lado de outros réus e de seus advogados em uma fileira em frente ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, a quem já chamou de "ditador".

O primeiro a depor foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que confirmou a existência de um documento para ativar o "estado de sítio" e "refazer as eleições" em 2022.

Bolsonaro "recebeu e leu" o documento apresentado por seus assessores, que previa a "prisão de autoridades" e a criação de um "conselho eleitoral" para realizar novamente as eleições vencidas por Lula, afirmou Cid, que firmou um acordo de delação premiada com a Justiça.

O ex-presidente "enxugou o conteúdo" do documento e "somente o senhor [Moraes] ficaria como preso", disse Cid a Moraes, o que provocou uma risada de Bolsonaro na sala e uma piada do ministro, que comentou que as demais autoridades teriam sido beneficiadas por "um habeas corpus".

- 'Não me lembro' -

O ex-braço direito também confirmou que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice de Bolsonaro, entregou a ele dinheiro em uma caixa de vinho.

Segundo o inquérito policial, essa quantia seria usada para financiar uma operação de "kids pretos", militares de elite do Exército, para ass Lula, Moraes e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Cid foi interrogado ao longo de quatro horas e, em alguns momentos, mostrou-se hesitante. Respondeu "não me lembro" a várias perguntas feitas por ministros do STF, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados de defesa.

Na sequência, foi a vez do segundo e último coacusado a ser interrogado nesta segunda-feira, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e deputado federal, Alexandre Ramagem (PL/RJ).

Ramagem negou ter disseminado desinformação sobre o processo eleitoral e garantiu que nunca compartilhou com Bolsonaro suas "anotações privadas" sobre uma suposta fraude nas urnas, que, segundo a PGR, serviriam para fomentar o golpe.

Por sua vez, o ministro Alexandre de Moraes, considerado um inimigo pelo bolsonarismo, mostrou-se descontraído e fez alguns comentários jocosos aos advogados.

Um deles pediu para iniciar a audiência desta terça-feira "um pouco mais tarde", ao que Moraes respondeu: "Vamos ver se terminamos amanhã. O senhor ainda tem quarta-feira para tomar um belo brunch, quinta é o jantar do Dia dos Namorados, e sexta é dia de Santo Antônio ? quem sabe o senhor comemora também numa quermesse?"

- 'Não tem por que me condenar' -

"Não tem por que me condenar. Estou com a consciência tranquila", disse Bolsonaro a jornalistas durante um intervalo na audiência, e menosprezou a acusação por ter "só um colaborador" contra ele.

Embora tenha o direito de permanecer em silêncio, o ex-presidente havia dito na semana ada à imprensa que responderia sem problemas aos questionamentos da corte.

Os interrogatórios acontecem na sede do STF, um dos prédios depredados por apoiadores de Bolsonaro em Brasília em janeiro de 2023 para pedir aos militares que derrubassem Lula, uma ação à qual a PGR também vincula o ex-presidente.

São transmitidos ao vivo e podem se estender até sexta-feira.

Também serão interrogados quatro ex-ministros e o ex-comandante da Marinha.

Após os interrogatórios, o STF ainda pode ouvir novas testemunhas e as alegações finais das partes, antes que os ministros iniciem a votação.

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© Agence -Presse

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